Brasileiros na Irlanda temem por suas vidas

11 viaturas da Garda (polícia de Dublin) foram queimadas

Por: Dayanne Wozhiak, correspondente do O Repórter

Dublin, capital da Irlanda, começou a manhã desta sexta feira (24) completamente destruída. Gangues irlandesas, passando-se por protestantes contra a imigração, atacaram sua própria cidade na noite da última quinta, após um ataque realizado por um imigrante no mesmo dia. O homem de 40 anos seria, ao que tudo indica, da Algéria e já teria passagens pela polícia e mandados de deportação em seu nome. Ataques e ameaças contra os imigrantes no país tomaram conta da cidade e internet.

Tudo começou na quinta-feira por volta das 14h, quando o homem teria ido a uma escola no centro de Dublin e esfaqueado três crianças e dois adultos, sendo uma professora que tentou impedir o ataque. No momento em que ele efetuava os golpes, um brasileiro, chamado Caio, que estava passando de moto pela região por ser entregador/delivery, viu a situação e resolveu agir. Em um ato de impulso, ele bateu com seu capacete no agressor, o que o teria imobilizado. O agressor e as cinco vítimas estão agora internados. Duas das vítimas, a professora e uma das criança de 5 anos, estão em estado grave. O homem também teria sido preso antes da internação.

Após o ocorrido, alguns dos moradores irlandeses da capital iniciaram um protesto contra a imigração no país. A Irlanda tem aberto as portas não apenas para imigrantes que vem a estudo e trabalho, mas também a muitos refugiados de guerra, como os ucranianos e palestinos. Alguns dos protestantes dizem-se contra a imigração desorganizada, já que a capital vêm enfrentando sérios problemas de moradia há pelo menos dois anos. Imigrantes de todos os países vem têm dificuldades para encontrar uma casa para morar. Esse seria, segundo alguns deles, um dos motivadores para o protesto, que pegou gancho no ataque contra as crianças. Outros envolvidos ainda dizem que não concordam com os benefícios oferecidos a muitos refugiados (uma quantia semanal de € 38.80 por adulto e € 29.90 por criança).

Após os protestos pacíficos, por volta das 19h, a revolta tomou conta do centro de Dublin. Várias pessoas irlandesas, muitos mascarados, começaram a atear fogo em viaturas de polícia e transporte público e até mesmo quebraram e saquearam lojas de marcas famosas e caras, como de perfumes e tênis. Em meio ao tumulto, muitos dizem que querem, dessa forma, enviar os imigrantes de volta para os seus países de origem, enquanto outros fazem ameaças contra a vida dos estrangeiros.

Em vídeos que circularam pela internet, é possível ver pessoas de todas as idades, homens e mulheres em meio ao tumulto. Ao quebrarem as portas de uma loja da Asics, alguns atiravam roupas para o alto e perguntavam "que número você calça?" aos comparsas. Policiais também foram atacados com socos e chutes. Na Irlanda, policiais civis (Garda) não andam armados e existem leis severas que defendem os civis, limitando o trabalho dos agentes em situações como essa.

Ao que tudo indica, os protestos pacíficos não teriam conexão direta com a quebradeira. Os autores da destruição estariam apenas tirando vantagem para destilar sua xenofobia e racismo, além de saquear estabelecimentos.

Nesta sexta-feira (24), circularam novos vídeos e conversas de grupos que estariam organizando mais ataques, que foram programados para o meio dia e 17h de hoje. Muitas escolas de inglês suspenderam as aulas (já que muitos dos alunos são imigrantes), assim como algumas empresas pagaram táxi, hospedagem e até dispensaram seus funcionários imigrantes. Muitas das lojas do centro fecharam as portas.

Até o momento, 34 pessoas foram presas, 13 lojas foram danificas/saqueadas, 11 viaturas e 4 transportes públicos foram danificados/queimados. A Ministra da Justiça de Dublin, Helen McEntee, disse que o ataque a agentes de segurança pode resultar em até 12 anos de prisão.

"Vários tinham a intenção de causar nada além de estragos, saques, tumultos e perturbações. E serão tratados de forma adequada", disse a ministra ao RTE News.

Imigrantes brasileiros iniciaram grupos de Whatsapp para compartilhar notícias e divulgar locais a se evitar passar nesse momento. Todos sentem muito medo e a orientação é de que, quem puder, fique em casa.

O paraibano Rany Oliveira diz que costuma ser bem cauteloso em dias comuns em Dublin, mas que agora teme pela namorada, que é Argentina. "Tenho medo por ela, que não tem como se defender. Ela está bem assustada e a gente não sabe como vai ser o futuro aqui, se vão surgir mais ataques contra imigrantes", diz o músico, que mora na capital da Irlanda há dois anos.

"Eu fugi do Brasil por causa da violência. E agora tenho que ficar com a atenção redobrada como era no Brasil. Aparentemente, pelo que leio nos comentários irlandeses, o ódio é mais contra os muçulmanos, mas vai saber", conclui o músico.