Denúncia póstuma: provas e relatos revelam detalhes do caso que expõem crime brutal.

O que se faz quando quem poderia dar todas as respostas, contar o que acontecia e como foi cada passo de um caso, é a vítima?
Foi assim, com uma voz silenciada e uma vida tomada que a família de Ana Paula Proença e a equipe de acusação, precisou solucionar e trazer justiça para a história do assassinato que aconteceu em 2020, em Fazenda Rio Grande. Mesmo morta, sem resposta e salvação em vida, a vítima revelou seu algoz no silêncio do corpo e das provas.
Enquanto alguns se preparavam dentro do fórum para o julgamento, a família de Ana Paula se prepara para mais uma vez reviver todo o medo, angústia e tristeza que sentiram no dia 22 de dezembro de 2020, data de quando as buscas pela moça se iniciaram.
O padrasto de Ana Paula, Paulo Roberto, que conviveu com conheceu a moça e conviveu com ela após começar um relacionamento com Cleonice Proença, mãe da vítima, contou à equipe do O Repórter quais eram os pensamentos dele e da esposa naquele dia.
"Hoje pra gente vai ser uma coisa difícil, a gente espera que a sentença seja feita e a divina justiça de Deus, essa não falha mesmo, esperamos que a do homem também seja cumprida, Que ele pegue, muito anos porque é o que ele merece por vários crimes que ele cometeu.".
Com quase vinte e quatro horas de duração, o julgamento se iniciou na parte da manhã do dia 27 de abril, mas com menos de meia hora do seu início já corria o risco de ser adiado, com a defesa de Adriano Meinster falando sobre gravações da casa que nunca chegaram a mão da equipe de defesa e que isso era um claro sinal de manipulação das autoridades. Contudo, o ministério público e a juíza responsável pelo caso questionaram o porquê da equipe de defesa não ter exigido tais gravações nas outras duas vezes que adiaram os julgamentos passados.
Sobre a defesa, quem ficou responsável pela defesa foi o grupo de advogados do Instituto Dalledone, que teve como sua principal arma questionar a maternidade de Ana Paula e utilizar de falas que a citam como uma mulher violenta. A integrante do grupo de advogados de acusação, Darcieli Bachmann, também integrante do grupo de advogadas “Anjos de Salto”, falou sobre essa estratégia tão utilizada em casos de feminicídio.
“É uma estratégia usada em diversos casos de que a vítima tem culpa por ter morrido, que a vítima contribuiu para que aquele fato viesse a acontecer, e o final ser trágico dessa maneira. Normalmente as defesas, e não estamos falando especificamente desse caso, de uma maneira genérica é a mulher que não presta, que é violenta, que veio para cima, a mulher que é agressiva! E isso infelizmente é muito comum”, comentou a Dra.Bachmann, trazendo uma visão geral sobre essa estratégia tão utilizada em casos de violência contra a mulher. No caso da sentença de Adriano Meinster, tal ação serviu como peso para sua sentença, sendo visto como uma tentativa de diminuir e manchar a imagem da vítima.
Sobre o caso, cada momento dele foi relembrado durante o júri. Desde a suposta briga do casal que se iniciou na manhã do dia 20 de dezembro de 2020. Através dos relatos, após Ana encontrar no celular de Adriano mensagens com uma amante, o casal iniciou uma briga. Adriano diz que a mulher tentou atingi-lo com uma faca e como defesa ele desviou dela aplicando um golpe de mata-leão em seguida, os dois andaram até o quarto do casal com Ana ainda recebendo o golpe até o condenado sentir seu corpo amolecer. Contudo tal relato tem uma “testemunha” que muda isso: o filho do casal!
Por relatos dos avós, a criança que na época do crime tinha 2 anos, faz gestos de estrugalemento seguido das palavras “papai! mamãe!”, dando força a primeira versão de como a vítima teria sido morta: por um estrangulamento!
Mas para que a versão de Adriano tivesse força, ele e o advogado Renan Canto constituíram o momento, porém tal ação foi interrompida por uma discussão do advogado com o promotor Adolfo Vaz. Segundo Dr.Canto o promotor teria “cassoando” do momento, rindo da constituição. Essa não foi a primeira (nem última) vez que os dois discutiram e discordaram durante o julgamento. Momentos de acusação e defesa foram interrompidos e seguidos por discussões entre os dois lados.
Durante seu interrogatório Adriano respondeu apenas ao júri popular e a equipe de defesa, em principal o advogado Renan Canto. Entre as falas do depoimento ele admitiu que após o crime utilizou o telefone de Ana Paula, respondendo seus contatos do Whatsapp como se fosse a mesma, chegando a mandar mensagem para ele mesmo como se fosse a mulher terminando o relacionamento. Após isso o assassino confesso escondeu o corpo, foi até estabelecimentos onde fez compras utilizando o cartão da vítima para horas depois ir até a praia levar a amante para visitar a família.
Chegando perto da madrugada, no momento onde a acusação apresentava as provas contra o criminoso, uma informação chocou os presentes e a família, que jamais havia visto o corpo de Ana Paula. Antes que as fotos do corpo fossem mostradas, deixando a vista a maneira que Adriano deixou o corpo da mãe do próprio filho, o promotor de justiça, Adolfo Vaz, trouxe a informação presentes em documentos de análise do legista que o corpo estava com as mãos para trás e tinha um arame farpado em volta do pescoço. A defesa obviamente tentou contestar tal afirmação, afirmando que o corpo teria ficado dessa maneira durante o trajeto para o IML, porém a foto do corpo feita pela equipe forense e perícia mostram que sim, Ana Paula estava com as mãos para trás e estava com o pescoço em carne viva.
Mas tal prova que ajudava a acusação e era um ponto a mais para a sentença de Adriano serviu como um soco no estômago para a família da vítima. Sua mãe jamais havia visto o corpo da filha, não sabia como Ana havia ficado após dias do crime, após ter cal e tinta jogado nele, depois de ficar dias debaixo da terra fria. Aquelas fotos serviram para lembrar que Ana Paula teve sua vida de maneira brutal tirada dela.
As 4:50 a juíza Dra.Paula leu o veredicto final. Adriano Meinster foi sentenciado a vinte e um anos, quatro meses e sete dias. Sentenciado pelo crime que cometeu contra a vida da mulher que prometeu amar a proteger a matando na frente do próprio filho, pela ocultação do cadáver da mulher de 25 anos que foi traída por quem amava, tendo de maneira geral sua pena agravada pela tentativa dele e da defesa de diminuírem o caso e não trata-lo como feminicidio, mas sim “como mais um assassinato qualquer”, sem agravantes ou culpa.
Além da sentença (que já foi recorrida para que seja diminuída), Adriano deve pagar mais R$21 mil referente aos danos causados. Enquanto isso, o filho do casal, agora com seis anos, segue aos cuidados dos avós maternos mas segue questionando onde está o pai? Onde está a mãe?