Funcionária vai à polícia e conta detalhes sobre assédio sexual de presidente da Paraná Turismo
Banda B/Francielly Azevedo e Marcelo Borges
"Eu quero saber se você é depilada, porque eu fico imaginando, eu chego a sonhar com você"
A funcionária comissionada da Paraná Turismo, Natália da Silva, acusa o presidente da autarquia ligada ao Governo do Estado, João Jacob Mehl, de assédio sexual e racismo. A secretária prestou depoimento, nesta segunda-feira (20), na Delegacia da Mulher, no bairro Cabral, em Curitiba.
As ações reiteradas teriam acontecido dentro da Paraná Turismo. A mais grave delas, segundo Natália, foi registrada no último dia 25 de novembro, quando Jacob Mehl pronunciou frases de baixo calão para a funcionária. “Geralmente, ele faz esse tipo de gracinha, de elogios meio nojentos, mas a gente releva, por conta da idade. No dia 25 de novembro, ele me chamou próximo da mesa dele e perguntou se minhas partes íntimas são depiladas. Ele disse: ‘sabe por quê? Eu quero saber se você é depilada, porque eu fico imaginando, eu chego a sonhar com você. Você não quer fazer amor comigo?’. Por último, para finalizar, ele disse: ‘garanto que eu faço mais gostoso que seu falecido namorado’. Faz dois meses e meio que meu namorado veio a óbito”, relatou Natália.
A funcionária salvou prints de celular em que conversa com o chefe. Além disso, usou um gravador para capturar áudios. “No dia 25, quando aconteceu, eu não tive reação, só sabia chorar. Saí para almoçar e não consegui. Pensei: ‘o que vou fazer? O homem tem nome, tem dinheiro, cargo de presidente’. Coloquei o gravador no meu bolso, porque, se eu não gravasse, ninguém acreditaria em mim. Após o almoço, eu cheguei perto dele, nervosa, e falei: ‘sobre a sua conversa comigo hoje pela manhã, não gostei, isso não é pergunta que se faça, se eu sou depilada? Estou aqui para trabalhar, quero que o senhor me respeite”, contou à Banda B.
Natália, que trabalha na Paraná Turismo há 1 ano e 9 meses, fez uma denúncia interna antes de procurar a delegacia. De acordo com ela, pelos corredores da entidade, há relatos de outra funcionária, que teve medo de procurar as autoridades. Apesar disso, Jacob Mehl continua exercendo normalmente as atividades. “Eu continuei trabalhando normalmente. Formalizei denúncia para o Estado e na delegacia. O Governo informou que as medidas cabíveis estão sendo tomadas, mas eu não sei quais, pois ele continua trabalhando normalmente, como se nada tivesse acontecido. Eu tenho pavor de escutar o elevador subindo com ele chegando”, afirmou.
João Jacob Mehl tem 78 anos e é pai de cinco filhas. Além de dirigente da Paraná Turismo, ocupou o cargo de presidente do Coritiba por duas vezes, entre 1990 e 1991 e 1998 e 1999. “São denúncias de extrema gravidade, sobretudo, ocorrendo dentro de uma autarquia do Estado do Paraná, que tem compliance e conhecimento sobre a postura reiterada desse senhor. É uma situação que não pode perdurar. É uma coisa que vamos buscar a Justiça tanto para Natália, quanto para outras vítimas que ele tenha feito e ainda não temos conhecimento”, destacou o advogado Thigo Teza, que representa Natália. A Polícia Civil ainda não se manifestou sobre o caso.