Líder espiritual suspeito de manter relações sexuais com promessa de cura escolhia mulheres em vulnerabilidade, diz advogada
G1 Paraná
O líder espiritual suspeito de manter relações sexuais com a promessa de cura, em Maringá, no norte do Paraná, escolhia mulheres em vulnerabilidade para praticar os crimes, segundo a advogada que orientou as sete vítimas, Luiza Beltran. Conforme a Polícia Civil, o investigado foi preso preventivamente, na terça-feira (30), suspeito de violação sexual mediante fraude, importunação sexual e assédio sexual. “As vítimas vieram me procurar. A gente começou a perceber que primeiro elas vinham sendo abordadas por causa da religiosidade, por causa da cultura, que é legítima, que existe. Porém, algumas mulheres que eram mais vulneráveis, por questões de idade, questões sociais, que tinham passado por um abalo recente, talvez ele percebia essa situação de vulnerabilidade das vítimas e as colocava em uma situação de pressão psicológica, de abuso psicológico", contou a advogada.
O delegado do caso, Rodolfo Vieira, confirmou que as vítimas apresentavam alguma vulnerabilidade, seja por idade, classe social ou por dificuldade momentânea, como um problema de saúde. Os encontros aconteciam nos fundos da casa do suspeito, no Conjunto Requião, em Maringá. As reuniões ocorriam à noite e eram acompanhadas por cerca de dez pessoas. "Ele fazia com que a relação sexual fosse um ritual dentro da espiritualidade, ou seja, ia para uma sala reservada, ia com uma roupa especial da cultura para aquela sala, onde ficava de três a sete horas. Nesse locais é que aconteciam os abusos, a violação sexual mediante fraude", disse.
Sete mulheres, entre elas uma adolescente de 17 anos, foram ouvidas e relataram histórias parecidas à polícia. O primeiro caso foi registrado há cerca de um mês, segundo a polícia. Com base nas provas testemunhais, a Justiça determinou a prisão preventiva do suspeito. A esposa do suspeito será ouvida no processo. A princípio, não há indícios da participação dela nos supostos abusos sexuais, segundo a polícia. Até a última atualização desta reportagem, o suspeito não tinha advogado de defesa constituído para o caso.
Abusos
Uma mulher que frequentou os encontros na casa suspeito contou, em depoimento, que ficou em choque com a proposta feita pelo suposto líder espiritual, para que ela se redimisse dos pecados de vidas passadas se entregando sexualmente. A mulher, que preferiu não se identificar, disse que ficou assustada e não aceitou ter relações com o suspeito. As vítimas do caso estão recebendo apoio no Núcleo Maria da Penha (Numape), da Universidade Estadual de Maringá (UEM).
A vice-presidente do Conselho Mulher de Maringá, Crishna Correa, é articuladora do Numape e atendeu as mulheres. “Essas mulheres chegaram em uma situação de sofrimento muito intenso por causa dos abusos sofridos, algumas de muito tempo, algumas mais recentes." Crishna disse que depois da denúncia as vítimas ficaram com a expectativa de que o suspeito fosse preso, por isso, a rede de apoio se uniu para ajudar no caso. "Isso demandou da gente que nós nos articulássemos em rede, para acolher esse caso porque são várias mulheres, os sofrimentos são intensos, as vulnerabilidades são diversas. Por exemplo, todas elas se afastaram do grupo, por enquanto, e algumas das mulheres viviam de uma economia gerada dentro do grupo, como com artesanatos, então gerou outras vulnerabilidades sociais que tiveram que ser acolhidas pela rede.”