Linhas de investigação desprezadas pela polícia indicam uma reviravolta na acusação contra empresário de Mandirituba 

Onildo Chaves de Córdova II será julgado no próximo dia 30. Ele é acusado de ser o mandante do assassinato do fiscal de postos de combustíveis, Fabrizzio Machado da Silva. Defesa acredita em absolvição e garante que o empresário é inocente 

Às vésperas do julgamento do empresário Onildo Chaves de Córdova II, apontado como o possível mandante da morte  de Fabrizzio Machado da Silva, presidente da Associação Brasileira de Combate a Fraudes em Postos de Combustíveis, uma reviravolta no caso é esperada pelos advogados de defesa do acusado. Segundo o criminalista Adriano Bretas, a investigação conduzida pela Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) não conseguiu aprofundar suas diligências dentro do prazo legal para encerrar o inquérito e com isso, foi levada a um sequência de erros que custaram a acusação de um inocente. “Somente anos depois, com a produção da prova no curso do processo é que se tomou conhecimento do que de fato estava acontecendo. Onildo nunca foi culpado das acusações que lhe imputaram, mas sempre foi útil para que um emaranhado de fatos estranhos e relações perigosas você jogado para debaixo do tapete”, explicou o criminalista. 

Nesse contexto, o novo olhar consideraria que em razão de seu trabalho à frente da Associação Fabrizzio acumulou  desafetos, em especial de pessoas que aparecem no inquérito, todos empresários do setor de combustíveis, mas que contam com longa ficha criminal e histórico violento. “Da mesma forma, seguindo denúncias feitas por empresários à justiça, que acusavam Fabrizzio de agir á margem da lei e com foco em seus interesses pessoais, descobriu-se que a vítima mantinha uma segunda atividade ligada ao setor de combustíveis. Nesse caso com a empresa Fato, que tinha como único cliente a representante de uma grande multinacional do setor de combustíveis. 

A existência dessa segunda empresa, nunca trazida à público pelas autoridades ao longo dos seis anos de investigação do crime,  seria um proeminente indício de que o trabalho da DHPP poderia ter deixado passar fatos importantes. “Minutos após Fabrizzio ser morto, seu sócio na Associação Brasileira de Combate a Fraudes em Postos de Combustíveis e na empresa Fato, chega ao local do crime, pega o celular do Fabrizzio e só o entrega às autoridades no dia seguinte! A perícia revelou que o celular da vítima ficou ativo horas e horas após os fatos”,, comentou o advogado e complementou. “Por qual motivo uma pessoa, que acaba de saber da morte de seu sócio, seu amigo, vai até o local da morte e tem como primeira atitude pegar o celular  da vítima ? E o que havia naquele aparelho para que ele fosse retirado com tanta rapidez do local em que Fabrizzio estava morto?”, indagou Bretas. 

Documento da Polícia Civil indical que o dono de uma rede de postos de combustíveis foi apontado como mandante já no dia seguinte a morte de Fabrizzio.

Suspeitos ignorados 

Fabrizzio Machado da Silva foi assassinado em uma emboscada na noite do dia 23 de março de 2017, quando chegava em sua casa no bairro Boqueirão, em Curitiba. Uma mulher que passava pelo local na hora dos fatos, testemunha ocular do assassinado do empresário, foi ouvida pela polícia. Em seu primeiro depoimento à polícia ela descreveu com riquezas de detalhes toda a cena que presenciou, a forma com que Fabrizzio é morto e dá detalhes das características físicas dos atiradores. Porém uma testemunha que passava pelo local no momento do crime faz revelações perturbadoras da presença de um homem que supostamente assistia a execução de dentro de um carro. Conforme registrado nos documentos da investigação, principalmente depoimentos, essa testemunha narra a presença de um senhor, com rosto bem cheio, cabelos grisalhos e que estava dentro de um carro prata.  Essa pessoa teria assistido a toda a cena da execução de Fabrizzio e em seguida teria deixado o local. Ela chega a reconhecer esse homem por fotos na delegacia, mas na hora de formalizar o ato se nega a fazê-lo por medo. Em juízo ela explica que não quis reconhecer por medo. 

A foto apontada pela testemunha, mas que não é reconhecida formalmente, seria de um conhecido empresário do setor de combustíveis de Curitiba, dono de uma extensa ficha criminal, que já foi alvo de diversas operações por fraude e adulteração de combustíveis. “E esse empresário estava em guerra com Fabrizzio, ao ponto de encaminhar dossiês para a justiça acusando a vítima de corrupção, enriquecimento ilícito, tráfico de influência,  e uma série de outros crimes. Esse empresário, que segundo  a testemunha sigilosa estaria na cena do crime acompanhando a execução de Fabrizzio foi descartado da investigação”, explicou Bretas. 

E não só a testemunha ocular aponta esse empresário. Horas após a morte de Fabrizzio. “Existem denúncias feitas diretamente a Polícia Civil apontando esse empresário como o mandante. Gente ligando e falando o nome do suspeito, mas não era suficiente. Um alvo das operações de Fabrizzio, conhecido pela sua violência e pelo seu histórico de crimes, frequentemente investigado por acusações de fraudes em combustíveis, não era um suspeito a ser investigado a fundo. Nada foi suficiente”, lamentou Bretas. 

Outro suspeito, também empresário do setor de combustíveis, foi descartado pela investigação. A investigação mostra que o  suspeito era monitorado por Fabrizzio e pela Polícia Civil, pois além de envolvimento com fraudes e adulterações em combustíveis, o mesmo era apontado pelas autoridades como sendo membro de uma facção criminosa. “O que nos causa espanto é que, mesmo com as autoridades suspeitando do envolvimento desse empresário com facções criminosas, conhecendo o histórico criminal desse homem, não se atentaram a forma com que a execução de Fabrizzio aconteceu”, pontou

Troca de mensagens 

As suspeitas do criminalista são potencializadas pelo que, segundo ele, é um elemento grave e que precisa ser esclarecido. “Após o sócio de Fabrizzio entregar o celular para as autoridades, no dia seguinte ao crime, esse aparelho é submetido a perícia e mensagens são recuperadas e extraídas. Essa perícia revelou a existência de um grupo formado por jornalistas, policiais, representantes de uma multinacional ligada ao setor de combustíveis, além de Fabrizzio e seu sócio”, explicou o advogado. 

No grupo, segundo a troca de mensagens entre os membros, uma equipe de reportagem estaria vigiando os passos do empresário, apontado como membro da facção criminosa. Junto estavam Fabrizzio e seu sócio. “O que acontece nessa troca de mensagens é que um delegado de polícia avisa no grupo que o alvo estaria em um de seus empreendimentos, uma churrascaria. O jornalista então pergunta se é seguro e o policial responde que sim, que inclusive que tinham policiais, entre eles alguns delegados, almoçando no local”, pontuou o criminalista. 

Para a defesa de Onildo, a troca de mensagens mostra que Fabrizzio, no exercício de suas funções, não conseguia medir o nível de risco de suas operações, tampouco compreendeu a periculosidade de alguns suspeitos que ele investigava em suas operações de combate as fraudes aos postos de combustíveis. “O Fabrizzio estava em sua missão e talvez toda a proximidade dele com promotores de justiça e delegados lhe deu uma sensação de segurança maior do que deveria. Seu envolvimento com membros da polícia civil e do ministério público era tão próximo que ele recebia em tempo real as interceptações telefônicas dos alvos de investigação das operações de combate as fraudes nos combustíveis. Que cidadão não sendo membro do judiciário tem essa proximidade? Toda essa relação o fez se sentir seguro. Infelizmente, no curso de seu trabalho, acabou surpreendido, emboscado e morto”, explicou Bretas. 

Auto de reconhecimento do empresário, denunciado (documento 1) por testemunha que presenciou o crime. Segundo ela, o homem ficou assistindo a execução. Reconhecimento seria uma das provas da inocência de Onildo.

Sem relação

O advogado Adriano Bretas por fim explica as razões que a inocência de Onildo precisa ser reconhecida. Segundo o criminalista, no curso das investigações da Operação Pane Seca, que seria deflagrada no dia seguinte a morte de Fabrizzio, a justiça autorizou a interecptção telefônica de diversos empresários, donos de postos de gasolina, e seus funcionários, entre eles estava Onildo. “Seis meses de grampo telefônico. Onildo e todos os seus funcionários grampeados por meio ano ! Em seis meses nunca se ouviu uma conversa sobre fraude em combustível, nunca se escutou uma conversa sobre atos criminosos e o principal, nunca, nem Onildo, nem seus funcionários mencionam o nome de Fabrizzio, ou qualquer nome relacionado a ele e as investigações. Não é só o Onildo grampeado, é Onildo e equipe. Muita gente, falando ao telefone sem parar, sem saber da interceptação, e você não escuta uma única menção ao nome de Fabrizzio. E sabe por que? Porque Onildo não conhecia, não sabia da existência de Fabrizzio. Onildo não fazia nem nunca fez parte da “rodinha” de empresários do setor de combustíveis. Onildo apenas levava a vida e tinha como fonte de renda o posto. Nada mais. Não cometia crime, não andava em bando, não fazia cartel, não se relacionava com empresários do setor. Onildo era aleatório a tudo isso e ainda é “, decretou o criminalista. 

Acusação 

Certo da absolvição de Onildo, Adriano Bretas diz que o que levou Onildo à prisão foi uma denúncia anônima. “Um cenário montado para que o crime não fosse mais investigado. Colocar Onildo na cena do crime era dar fim a uma investigação que poderia levar a descobertas perigosas para muita gente poderosa”, apontou o criminalista. Bretas ainda aponta que os depoimentos que acusam Onildo são justamente de pessoas ligadas aos executores, os mesmos que segundo as investigações, seriam membros da mesma organização criminosa que outro alvo das operações de Fabrizzio fazia parte. “Veja, temos um suspeito potencial, frequentemente investigado pelo Fabrizzio, apontado como membro de uma facção criminosa. Temos um executor, o homem que mata Fabrizzio, membro da mesma facção criminosa, sendo preso horas após o crime e a coisa se resolve assim ?Uma ligação anônima e um criminoso dizendo que foi o Onildo e caso encerrado ?”, disparou o criminalista. 

O advogado encerra trazendo uma questão que ele trata como irrefutável na defesa de Onildo. “Esses criminosos dizem que receberam das mãos de Onildo dinheiro, arma e uma porção de drogas no dia 16 de março. A entrega seria parte do pagamento pela morte de Fabrizzio. O encontro teria sido no posto de Onildo. O problema dessa história é que no dia 16 de março de 2017 Onildo estava em São Paulo embarcando para uma viagem de férias no México, como foi provado com passaporte, reservas de hotel, passagens aéreas, registros de embarque. Onildo não encontrou esses criminosos, não conheceu, nunca falou e no dia em que eles afirmam que encontraram com Onildo, Onildo não estava sequer em Curitiba, no Paraná. Onildo estava em São Paulo embarcando para suas férias no México”, finalizou o criminalista. 

A nossa equipe continua acompanhando o casso.