Pneus importados chegam ao Brasil com preços até 69% menores que no mercado Internacional, revela estudo da lCA/ANIP

Estudo mostra que o Brasil se tornou alvo de importações desleais de pneus, impactando a indústria nacional e colocando empregos em risco. ANIP pede medidas tarifárias para proteger o setor.

Um estudo realizado pela LCA Consultoria Econômica para a Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (ANIP) revelou que o Brasil tem se tornado alvo de importações desleais de pneus, com produtos chegando ao país com preços até 69% menores que os praticados no mercado internacional. Sem barreiras tarifárias de proteção, o país enfrenta uma concorrência acirrada que pode levar à desindustrialização e ao desemprego no setor.

Em 2023, os pneus de carga importados ingressaram no mercado brasileiro ao custo médio de US$ 2,9 por quilo, enquanto no mercado internacional o mesmo produto era vendido por cerca de US$ 4,2 por quilo. Em comparação, nos Estados Unidos, maior mercado importador do mundo, o preço médio do quilo de pneus importados foi de US$ 4,4, no México foi de US$ 4,5, e na França chegou a US$ 5,3 por quilo. Isso coloca o Brasil como o país com o menor preço médio de pneus importados de carga entre os mercados analisados pela LCA.

A distorção também se estende aos pneus de passeio. Em 2023, enquanto o quilo de pneus importados era comercializado internacionalmente a US$ 5,7, no Brasil esse valor foi de apenas US$ 3,2 por quilo. Em comparação, nos EUA, o preço de pneus importados de passeio era de US$ 5,8 por quilo, e na França, de US$ 6,5 por quilo.

Klaus Curt Müller, presidente executivo da ANIP, destaca que "essa variação absurda mostra que os países asiáticos estão aproveitando a falta de proteção tarifária no Brasil para exportar produtos a preços desleais, afetando negativamente toda a cadeia de produção de pneus no Brasil". Entre 2021 e 2023, ao contrário do Brasil, EUA, México e países da Europa implementaram barreiras tarifárias para proteger suas indústrias locais e preservar empregos.

Nos Estados Unidos, por exemplo, foram estabelecidas medidas compensatórias contra importações chinesas em 2022, com taxas variando entre 25% e 125%. Em abril de 2020, o país já havia renovado o antidumping contra pneus chineses, estabelecendo uma taxa de 76,5%. Essas ações resultaram em uma queda de 30,5% nas importações de pneus de carga e passeio da China para os EUA.

No Brasil, a entrada desenfreada de pneus importados, principalmente da Ásia, tem causado impactos severos. Entre 2021 e 2023, a importação de pneus de passeio aumentou 104%, enquanto no segmento de carga o crescimento foi de 84%. "Essa concorrência desleal ameaça empregos, coloca investimentos futuros em risco e desorganiza a cadeia produtiva, afetando desde produtores de borracha até fornecedores de têxteis, produtos químicos e aço", alerta Müller.

Para tentar restabelecer o equilíbrio no mercado e garantir condições justas de concorrência, a ANIP entrou, em outubro de 2023, com um pedido junto à Secretaria Executiva da Câmara de Comércio Exterior (Camex) para elevação temporária da Tarifa Externa Comum (TEC) de 16% para 35% sobre pneus de passeio e carga, por um período de 24 meses. "A medida é necessária para evitar demissões e desestruturação da cadeia de produção de pneus no Brasil, que pode resultar em desindustrialização. É impossível competir com produtos que chegam ao país muitas vezes com valor inferior ao custo da matéria-prima", afirma Curt Müller. Segundo dados da Receita Federal, 100% dos pneus importados de países asiáticos chegam ao Brasil com preços abaixo do custo de produção, e metade desses produtos tem valores inferiores ao custo da matéria-prima.

Atualmente, o Brasil possui 11 fabricantes de pneus com operações no país, totalizando 21 plantas industriais distribuídas por 7 estados. Essas indústrias venderam 52 milhões de pneus no mercado local em 2023 e investiram cerca de R$ 11 bilhões nos últimos 10 anos em suas unidades fabris, visando excelência de processos, aumento de capacidade, tecnologia, inovação e sustentabilidade. O setor emprega diretamente 32 mil trabalhadores e gera 500 mil postos de trabalho indiretos no Brasil.

Entretanto, os empregos na indústria de pneus estão sob ameaça. "Hoje, temos 2.500 trabalhadores parados, aguardando para voltarem aos seus postos de trabalho, e o temor é que isso possa não acontecer", lamenta Müller.

Sobre a ANIP

Fundada em 1960, a Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (ANIP) representa a indústria de pneus e câmaras de ar no Brasil, abrangendo 11 empresas e 21 fábricas. O setor emprega diretamente mais de 32 mil pessoas e outras 500 mil de forma indireta.

Desde 1999, a ANIP coordena o Programa Nacional de Coleta e Destinação de Pneus Inservíveis. Em 2007, as fabricantes nacionais de pneus criaram a Reciclanip, entidade que se tornou referência mundial em logística reversa e é a maior da América Latina no setor de pneus. A Reciclanip atende mais de 1.000 pontos de coleta em todo o país.