Cerca de 500 mil crianças são vítimas de violência sexual no Brasil anualmente e apenas 10% dos casos são notificados. Quando se trata de punir os culpados, o índice é ainda menor: quase inexistente. As informações divulgadas pelo Instituo Liberta colocam o País no segundo lugar do ranking de exploração sexual infantil, perdendo apenas para a Tailândia.
O dia 18 de maio é conhecido como o Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Dia que existe para lembrar o tema e instigar não só a criação de políticas públicas que defendam nossos pequenos, mas também que estas sejam cumpridas.
De acordo com a psicóloga e autora do projeto de pesquisa em neurociência “Um olhar transdisciplinar sobre o abuso sexual infantil”, Viviane Pamella da Silva (CRP 08/33303), esse é tema ainda rodeado de tabus e pouco abordado, o que só piora a possibilidade de resolução, uma vez que os abusadores continuam existindo e sempre muito mais perto do que a família imagina.
“As pessoas ainda têm aquela ideia de que o abusador é alguém distante, uma pessoa que está passado na rua, uma pessoa que não é da cidade e chegou e, na verdade, o abusador costuma ser uma pessoa íntima da família, aquela pessoa carismática, amiga, que demonstra gostar muito de criança. É uma pessoa extremamente cativante e isso faz com que as pessoas duvidem, inclusive, quando a vítima relata o que ocorreu”, explica.

Segundo ela, os mecanismos de denúncia ainda dificultam muito que os culpados sejam punidos e até mesmo que a vítima seja reconhecida como tal e dê seguimento ao processo. “No processo do relato, a vítima acaba sofrendo mais traumas porque cada vez que ela tem que falar sobre, é como se ela revivesse tudo que aconteceu”, diz. O abuso causa traumas e até mesmo problemas como depressão, ansiedade e automutilação.
Por isso, é preciso estar atento aos sinais que a criança dá e também preservá-las criando um vínculo de confiança e ensinando, por exemplo, onde outras pessoas podem tocar em seus corpos e onde é região íntima, que não pode ser tocada. Para essa conversa, não há idade mínima, quanto antes os pais falarem sobre isso com os filhos, melhor será para seu o entendimento e para que denunciem caso algo aconteça.
Entre os sinais que as crianças costumam dar, estão mudança comportamental, medo ao se aproximar de uma pessoa específica (o que pode ser demonstrado ao não querer estar com essa pessoa ou fazer xixi/cocô na roupa). De acordo com a doutora, não se pode denunciar alguém sem motivos, mas também não se pode confiar cegamente em nenhuma outra pessoa quando se trata de seu filho.
O que é o abuso infantil
“Abuso é a atividade de cunho sexual que um adulto exerce sobre uma criança ou adolescente. Geralmente ocorre por encesto, estupro, sedução, atentado violento ao pudor ou exploração sexual. Mas não é só isso. Muitas pessoas e familiares pensam que o fato de o filho passar perto ou ver um filme pornô não é nada. Só que isso configura abuso também. Ou o fato dos pais não se cuidarem na hora de ter relação sexual e o filho acabar vendo, essas atitudes também configuram abuso porque a criança não está preparada para aquele conteúdo, ela não compreende aquele conteúdo, então isso pode impactar”, ressalta.
Para fazer uma denúncia anônima, caso você saiba de uma criança que está sofrendo abuso, disque 100.